Monday, January 29, 2007


E o amor dos homens esvaiu-se nele como areia na ampulheta. Como tempo que acaba e se acaba finda, sem voltar nunca para trás. Os seus olhos ficaram duros, ausentes do que o rodeava, a sua boca seca e as expressões mirradas.
Sentou-se no topo do edifício mais alto que encontrou, anichou-se curvo e pensativo, abstraído do frio e da chuva, do vento cortante e do sol abrasador, que lhe chicoteavam ferozmente com escárnio e desdém.
Trocou os sonhos por asas de pedra, trocou as mãos vazias de amor por garras cruéis incapazes de acariciar alguém, agarrou-se ao chão sedento de pertença e transformou-se em pedra aos nossos olhos.

Rezam as lendas que ainda se mexe, quando o vento passa e traz na brisa, o aroma fresco do seu perfume. Por ela se tornou uma estátua, fria e morta, inanimada. Por ela renasce na sua monstruosidade mórbida, e tenta voar com as asas de pedra, em noites que a lua ainda quase, o faz sonhar.


João Natal

0 Comments:

Post a Comment

<< Home